Elias: (31) 98845-8240 | Marcionila: (31) 99123-5766 | Paulo: (31) 98797-6900 | Vicente: (31) 99214-0188 humana@humanaconsultoria.com.br

Artigo escrito por Elias Alves da Costa Comsultor RH na HUMANA CONSULTORIA EMPRESARIAL

Este texto é inspirado no livro de Vijay Govindarajan – A Estratégia das 3 Caixas – publicado pela HSM, que trata de estratégias de inovação nas empresas, cuja leitura recomendo. Acredito que os conceitos centrais do livro podem ser adaptados à realidade profissional, no que diz respeito ao processo de aprendizagem, desenvolvimento e carreira.

De forma simples e bem articulada, o autor trata de estratégias de inovação usando a metáfora das 3 Caixas, a saber:

Caixa 1: Presente. A estratégia nesta caixa é lidar com o desafio de preservar a lucratividade do negócio atual. Aqui as mudanças são lineares e incrementais, ou seja, resultam em fazer cada vez melhor e de forma otimizada o que já se faz bem.

Caixa 3: Futuro. Aqui o desafio é criar o futuro. Trata-se da capacidade de fazer mudanças disruptivas e não lineares, ou seja, criar o que ainda não existe ou de uma forma inteiramente nova. E o sucesso dessa estratégia depende essencialmente de saber administrar a Caixa 2.

Caixa 2: Passado. Trata-se daquilo que não se aplica mais aos novos paradigmas de negócios e deve ser esquecido seletivamente. Esta caixa representa os grandes obstáculos à inovação, dado que tende a prender a empresa ao passado, especialmente ao que já deu certo e foi lucrativo, mas, ou já foi superado ou está em processo de substituição por novas tecnologias.

A Caixa 1 é essencial para a sobrevivência da empresa no presente e é também fonte de recursos para investimento na Caixa 3 (criação). Trata-se do negócio do presente, aquele em que a empresa se apoia para gerar valor e receitas que asseguram sua sobrevivência. Esta é a caixa que representa a preservação, pois reflete aquilo que a empresa faz bem e gera resultados e tem vantagens competitivas que podem ser preservadas.

No plano das pessoas, poderíamos dizer que a Caixa1 (presente) reúne nossa experiência, competências e habilidades que nos permitem gerar valor para o negócio em que atuamos. Assim como as empresas precisam inovar e otimizar seus negócios atuais, nós também precisamos atualizar e desenvolver nossas competências já estabelecidas. Trata-se de um movimento de mudança linear e previsível. Aqui precisamos nos manter atualizados e saber aplicar os conhecimentos absorvidos nas nossas ações profissionais do dia a dia.

A estratégia na Caixa 3 (criação), por outro lado, exige das empresas capacidade de criar o futuro, desenvolver novas tecnologias, novos produtos e serviços capazes de gerar vantagem competitiva futura, assentada em novos paradigmas. Muitas destas transformações são trazidas ao mercado por novas empresas, startups, que começam o negócio do zero, com base em tecnologias até então inexistentes. Empresas tradicionais normalmente enfrentam dificuldades de criar o futuro, pois tendem a usar modelos, métricas de negócios e estratégias que funcionaram bem no passado, mas que não se aplicam ao novo cenário. O autor do livro citado apresenta em detalhes tais dificuldades e mostra dezenas de casos de sucessos e fracassos de empresas ao tentaram implementar estratégias de inovação típicas da Caixa 3 (criação). E isso se deve à dificuldade de se desprender do passado, de esquecer seletivamente aquilo que não se aplica mais aos novos tempos. Trata-se, portanto, da incapacidade de administrar a Caixa 2 (passado).

Do mesmo modo, cada profissional precisa ser capaz de se capacitar em algo novo, assimilar/criar um conhecimento que está em desenvolvimento e protagonizar a mudança disruptiva. Como profissional, não basta gerar valor no presente, é preciso ser capaz de gerar valor no futuro, respondendo a demandas que ainda não estão postas. Trata-se de adicionar novos conhecimentos, habilidades e competências. Como as empresas, para ter sucesso na estratégia de Caixa 3, precisamos lidar com a Caixa 2, que requer sermos capazes de desaprender e esquecer aquilo que não se aplica mais, ainda que tenha sido relevante no passado.

A Caixa 2 (passado) funciona como uma espécie de gaiola mental que prende as empresas a negócios do passado e as pessoas, a paradigmas superados. É na Caixa 2 que as empresas enfrentam os maiores desafios de mudança. Os exemplos de fracassos são inúmeros. Todos nós lembramos de empresas de sucesso e produtos de destaque no passado que não existem mais. Poucas das maiores corporações atuais existiam há 3 ou 4 décadas atrás. A questão central é saber como se desvencilhar das armadilhas do passado e edificar o futuro.

Artigo recente publicado na HSM sobre a metáfora das 3 caixas levanta a questão: “por que empresas estabelecidas têm tanta dificuldade para se lançar à próxima grande novidade antes de novas concorrentes? O problema é generalizado e os exemplos, incontáveis. A explicação mais simples é que muitas empresas se concentram demais em executar o modelo de negócios de hoje e esquecem que esse modelo é perecível. Sucesso hoje não é garantia de sucesso amanhã”.

A mesma pergunta pode ser feita para nós profissionais. Por que relutamos tanto em nos lançar em algo que não conhecemos? Com o desenvolvimento da IA estamos todos sendo instigados a questionar verdades estabelecidas e aprender a lidar com algo completamente novo.

Um olhar para a carreira

Sou de uma geração em que o diferencial competitivo de um jovem nos anos 70 era aprender datilografia. Cursos de datilografia eram muito comuns nesta época e assim foi por décadas e décadas até então. Alguém da geração Z, se colocado diante de uma máquina de escrever, pode ter a sensação de que está num museu da idade média. Mas não faz tanto tempo assim que a computação se espalhou e a internet revolucionou as comunicações.

E a ideia de carreira, também mudou tanto? Até há alguns anos, a carreira era pensada em termos lineares e previsíveis, como subir uma escada escalando degrau por degrau até chegar ao topo. Um conceito hierarquizado e previsível pode ter funcionado em décadas passadas, mas é incompatível com o mundo não linear em que vivemos. Não há como associar carreira a cargos, até porque os cargos também estão mudando intensa e rapidamente. A ideia de carreira hoje está associada à geração de valor. Evoluir na carreira é ser capaz de gerar mais valor ao empreendimento, ao mercado, aos clientes e a si mesmo. Novas especialidades estão surgindo e novas posições também. O importante é manter-se preparado para ser relevante profissionalmente hoje e no futuro.

Pode-se dizer que carreira é uma jornada de aprendizagem contínua e de desenvolvimento profissional ao longo do tempo. Não se trata necessariamente de cargos, mas de entrega. Você vai ser mais bem valorizado na medida em que gerar mais valor ao negócio. É sabido, por exemplo, que a Geração Z é relutante em assumir cargos de chefia. No geral, sentem pouca atração por poder e hierarquia. Para lidar com isso e reter os novos profissionais, as empresas estão se tornando ambientes mais horizontalizados, com maior grau de liberdade e estímulo à inventividade. Se você é de uma geração anterior, precisa aprender a lidar com isso.

Para construir o futuro no terreno profissional, no entanto, não é necessário desprezar todo o passado. É preciso sim aprender a diferenciar o que é perene daquilo que é situacional. É evidente que há habilidades duradouras que servem de base para a aquisição de novos conhecimentos e o desenvolvimento de novas competências. Ter aprendido datilografia no passado não me traz nenhuma vantagem profissional hoje, mas foi relevante no início da minha jornada. Por outro lado, ter aprendido a assumir responsabilidade pelas minhas ações e escolhas continua sendo relevante para minha atuação não só no trabalho, mas também em outros tantos segmentos da vida. Desenvolver a autonomia é uma habilidade perene, foi importante ontem, é importante hoje e certamente será importante no futuro (até pelo menos enquanto a IA não nos substituir por completo).

Para evoluir como pessoa e profissional é necessário lidar com o próprio ego, abandonar a postura de orgulho e adotar a humildade – o húmus é que torna a terra fértil para produzir.

Quero propor a você, que chegou até aqui, a refletir sobre algumas âncoras da carreira e avaliar se fazem sentido:

•   Experiências acumuladas.

•   Formações e qualificações.

•   Habilidades técnicas, administrativas e comportamentais.

•   Valores e senso de propósito.

•   Reputação e representatividade.

•   Resiliência e persistência.

•   Disposição para aprender e assumir novos desafios.

•   Iniciativa e protagonismo.

•   Geração de valor e capacidade de entrega.

Certamente há outras âncoras, mas penso que estas são relevantes e devem ser levadas em conta no processo de autodesenvolvimento e gestão da carreira.

Quem deve assumir a gestão de sua carreira? Você ou a empresa?

Não raro, ainda percebo que muitos profissionais, sobretudo os de gerações anteriores, ainda esperam que a empresa faça a gestão de sua carreira, o que é um erro. A empresa precisa gerir bem o negócio dela e abrir perspectivas favoráveis para o desenvolvimento profissional de seus colaboradores. Mas a gestão da carreira é de cada um. A carreira é por assim dizer o “negócio” do profissional e cabe a ele zelar por ela, aproveitando as oportunidades que surgem e forjando outras. O desejável é que, a partir de diálogos transparentes e propositivos, os gestores busquem alinhar as expectativas do negócio com as aspirações do time, criando um ambiente estimulante e de confiança.

Para concluir este artigo, gostaria de propor um exercício para você avaliar como está lidando com a metáfora das 3 caixas aplicadas ao seu processo de desenvolvimento e careira.  Reflita sobre as seguintes questões:

Caixa 1: Preservação/presente. O que você está fazendo para otimizar suas habilidades, conhecimentos e experiências acumuladas e gerar mais resultados para o negócio hoje?

Caixa 3: Criação/futuro: O que você está fazendo para adquirir competências novas para lidar com os novos desafios profissionais?  Que tipos de mudanças os cenários tecnológicos apontam e que vão mudar a maneira de fazer as coisas no seu segmento de atuação?

Caixa 2: Passado. O que você precisa seletivamente deixar para trás (desaprender), para não ficar amarrado a um passado que não terá relevância no futuro?  Como evitar as armadilhas que o impedem a se lançar na Caixa 3.

Exemplos ilustrativos:

Caixa 1 – Presente: Que comportamentos enfatizar para continuar gerando valor ao negócio hoje?

Usar sua habilidade de relacionamento para estreitar parceria com a área X e melhorar o fluxo de informações.

Caixa 2 – Passado: Que comportamentos evitar para ser mais produtivo no trabalho?

Não reagir de pronto a opiniões divergentes. Em vez disso, buscar ouvir com abertura e explorar os pontos de vista divergentes apresentados.

Caixa 3 – Futuro: Que conhecimentos, habilidades / comportamentos você deve desenvolver para fazer face às mudanças que estão por vir?

Buscar se capacitar para assimilar a aplicação da IA no meu segmento de atuação.

Este exercício poderá tornar-se ainda mais rico e poderoso, caso você se disponha a ouvir pessoas relevantes no trabalho (pares, gestores, clientes…) para compor seu quadro de oportunidades. E antes de fechar seu plano, agende uma conversa com seu líder, para alinhar expectativas e obter insights para seu processo de crescimento. Visitar feedbacks e rever resultados de avaliação de desempenho podem ser importantes fontes de informações para dar mais consistência ao seu plano de autodesenvolvimento.

Espero que esta leitura possa te inspirar a seguir em frente na busca de seu crescimento como profissional e pessoa.

Belo Horizonte, 22 de janeiro de 2025.

Excelente iniciativa de elucidar e desmistificar em seu artigo de forma sintética e clara “A Estratégia das 3 Caixas” uma pérola de livro escrita por Vijay Govindarajan, super recomendável a leitura por lideres e gestores empresariais.
Muito interessante também a abordagem deste pensamento com viés de aplicabilidade na Carreira. Parabéns pelo compartilhamento.

#gestores #liderança #executivos #gestãocorporativa #estratégia #carreira #inovação #mudança #sustentabilidade #empregabilidade #eliasalvesdacosta #humanaconsultoriaempresarial #desenvolvimentoempresarial #desenvolvimentodelideres #gestãocoporativa